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O livro “Independente do lado das grandes – Das celas visíveis a  prisões invisíveis” foi escrito pelo policial penal Cléber Mota

Hostilidade, violência, desilusão. Esse é o panorama que pode descrever a triste realidade do sistema prisional brasileiro, onde homens e mulheres que,  por diversos motivos, se desviaram do caminho da lei, são obrigados a se acumularem em cubículos frios das carceragens para cumprirem suas penas, dividindo suas vidas, não só com outros presos, mas, também, com os profissionais responsáveis pela segurança, por manter a ordem dentro do caos. Esse cenário é o pano de fundo do livro “Independente do lado das grandes – Das celas visíveis a  prisões invisíveis”, de Cléber Mota, 44 anos, policial penal que ingressou no sistema prisional em 2006.

Mota, que se descreve como homem que acredita no poder da verdade e da fé para transformar realidades, crê que “a palavra pode mudar perspectivas” e, por que não dizer, tratar as cicatrizes adquiridas pela convivência diária com pessoas e fatos que a maioria da população nunca viu ou verá de perto, tendo apenas uma visão, muitas vezes distorcida, através do que é mostrado na TV. “Vi dores, injustiças, recomeços e também tragédias irreversíveis. Percebi que havia um abismo entre o que a sociedade imagina e o que realmente acontece dentro dos muros”, explica.

Ele diz que o livro foi a forma que encontrou para dar voz a essas realidades, sem tentar romantizar, apenas mostrando honestamente o peso e o impacto de viver ou trabalhar no sistema prisional. “Sem maquiagem, independente do lado das grades em que a pessoa esteja”. O escritor salienta que, ao mostrar essa realidade nua e crua, os leitores poderão despertar sua consciência para um mundo invisível que abriga pessoas tolhidas de suas liberdades.  

“Quero que o leitor entenda que o sistema prisional não é apenas sobre criminosos e punição, mas também sobre pessoas, famílias e profissionais que carregam diariamente um fardo psicológico enorme. É um chamado à reflexão sobre segurança pública, reintegração e sobre o papel que cada um desempenha na construção de uma sociedade mais justa”

Apesar desse cenário, há uma incongruência, que pode descrever a própria ambiguidade humana, pois, apesar de todos os pesares, Mota assume que há, sim, esperança, mais como uma luz no fim do túnel. “Não é uma esperança ingênua, não aquelas que se vê nos filmes. Ela precisa ser regada diariamente por pequenas vitórias, por resgates humanos, por oportunidades de mudança. A esperança no cárcere é rara, mas quando nasce, pode transformar trajetórias. Eu já vi pessoas se reerguendo contra todas as probabilidades e também profissionais que, mesmo diante da dureza, conseguiram manter sua humanidade”.

Talvez pelo próprio dualismo do ser humano, apesar da crueza e dificuldade do trabalho dentro do sistema prisional, ao ser questionado se vale a pena ser um policial penal, Mota não titubeia e crava um sonoro “sim”, embora saliente que essa vida não é pra qualquer um. “Não é só um emprego, é uma missão. Quem entra só pensando em salário ou estabilidade vai sentir o peso e talvez não aguente. Mas, para quem entende o papel essencial da função e está disposto a servir com ética, é um trabalho que, apesar dos desafios, constrói um legado e sustenta com dignidade suas famílias”.

O livro

Através do olhar do personagem principal, o policial penal Mateus, o leitor pode vivenciar a luta nas carceragens desde o primeiro momento em que ele entra em um presídio, em seu primeiro dia de trabalho, com um calafrio percorrendo-lhe a espinha, com o choque advindo do clima sombrio do lugar, até os dilemas, tristezas e alegrias da vida de um policial penal no cumprimento do seu dever nesse que pode ser descrito como a descida ao submundo.

 O livro “Independente do lado das grandes – Das celas visíveis a  prisões invisíveis” é uma publicação independente, com 289 páginas, que pode ser encontrado pela Internet.

O escritor

 Policial penal de carreira e escritor, Cléber Mota é marido e pai dedicado.  Dede 2006, quando ingressou na carreira, ele atua diretamente na linha de frente da segurança carcerária. Trabalhou em unidades de diferentes perfis, em Potim, Piracicaba e Limeira, enfrentando desde rotinas de segurança até situações críticas, “daquelas que a gente nunca esquece”. Ainda na ativa, Mota mantém o compromisso com a sociedade de preservar a integridade dos profissionais que estão ao lado dele, tanto física quanto mental ou espiritual.

 

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