Marc Souza

Agente penitenciário, escritor e Diretor do Sifuspesp
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Por Marc Souza

Ficar doente nunca é bom, no Brasil, onde temos uma saúde pública precária é muito pior, porém, infelizmente é algo que não se pode evitar. O problema é que nestes tempos de pandemia o que era precário, ruim, piorou, levando ao máximo aquela frase: não há nada tão ruim que não possa piorar.

É lógico que a falta de investimento na saúde levou à precarização do setor, ocasionado déficit de profissionais, principalmente especializados, com baixos salários, sucateamento de equipamentos e principalmente falta de vagas e locais adequados para tratamento e internações. Porém, se não bastasse todas as dificuldades impostas pela ausência e, principalmente, negligência do Estado, no último ano, a pandemia transformou a saúde pública em um verdadeiro e definitivo caos.

É notório as dificuldades que o sistema público de saúde passa, notória também é a luta diária dos profissionais deste setor em manter a ordem no caos imposto. Entretanto, existem algumas situações e procedimentos adotados que são difíceis de entender. Os procedimentos adotados pelo Pronto Atendimento Municipal de Dracena e da Santa Casa de Dracena são um grande exemplo.

Sabemos que diante da pandemia de COVID-19 muitas coisas tiveram que ser mudadas, principalmente para conter aglomerações, uma das maiores causas de disseminação da doença. Porém deve-se observar que os procedimentos adotados pela instituição dracenense estão causando mais transtornos aos pacientes e familiares do que benefícios.

Primeiramente no que diz respeito ao atendimento médico. Para evitar aglomerações é proibida a entrada de acompanhantes nos consultórios médicos, o que é compreensível. No entanto tal procedimento é adotado de forma inflexível e mesmo pacientes que estão, de certa forma, incapacitados de discorrer sobre seu caso clínico, não são autorizados a terem consigo seus acompanhantes, o que pode levar a um erro de juízo médico acerca da real situação do paciente, visto que, debilitado, o paciente pode deixar  de passar algo para o médico, o que pode acarretar consequências desagradáveis e até mesmo trágicas.

Devemos observar também que, após dar entrada tanto na enfermaria do Pronto Atendimento Municipal, como na enfermaria da Santa Casa, parece que o paciente entra em outra dimensão, em um limbo existencial, pois não se tem mais notícias do paciente.

É algo surreal, pois após passar a porta enfermaria parece que o paciente deixa de existir para seus familiares, pois não se tem mais notícias acerca de sua saúde e dos procedimentos médicos adotados, visto que não há o fornecimento de informações aos familiares que, do lado de fora, ficam apreensivos e ansiosos.

E isso não acontece só no Pronto Atendimento Municipal, mas também na enfermaria da Santa Casa, o que se torna algo inconcebível, principalmente neste período de pandemia onde as visitas presenciais estão suspensas.

Assim, não é incomum ver parentes ansiosos procurando, sem sucesso, informações acerca dos seus entes queridos, internados ou em observação no Pronto Atendimento Municipal e na enfermaria da Santa Casa para tratamento médico.

Não é admissível que o único meio de comunicação e de se obter informações sobre um paciente seja através do próprio paciente via telefone celular ou redes sociais de informação, como por exemplo o WhatsApp. Afinal, apesar da popularização dos dispositivos móveis e dos Apps de informação, nem todas as pessoas possuem tal meio de comunicação.

Ademais, é muito importante salientar que por vezes o paciente não tem qualquer condição física ou psicológica de pôr a par seus familiares sobre suas reais condições de saúde, sem contar que tal informação deve ser apresentada por um profissional de saúde que tem todas as condições necessárias para tal.

Por outro lado, é importante observar que ter alguém próximo hospitalizado é uma situação que traz aos familiares diversos sentimentos, como por exemplo angústia, tristeza, apreensão, nervosismo, desespero, raiva, dentre outros. Assim, a necessidade de ter notícias da pessoa que está internada é parte de um tratamento humanitário que precisa ser amparado pela instituição. 

Até por que os familiares são a extensão dos pacientes fora do ambiente hospitalar e devem ser a eles fornecidas informações sobre seu estado de saúde - se está melhor, se piorou, o que será feito, quais os caminhos disponíveis, dentre outros - pois a mesma doença que afeta o doente atinge também toda a sua família, deixando-a absolutamente fragilizada.

Diante disso deve-se urgentemente ser repensada a postura desta digna instituição a fim de que, dê aos atendidos, sejam eles pacientes ou parentes, plenas condições e tranquilidade em um momento tão difícil. Afinal é inadmissível, e até mesmo desumano, que após entrarem pelas portas desta instituição de saúde, pacientes e parentes fiquem sem qualquer informação, seja ela técnica ou não, sobre as reais condições de saúde do paciente, tratamentos adotados e possíveis consequências.

Tal situação gera estresse e preocupações desnecessárias em todos envolvidos, mas que podem ser sanados através da criação de um departamento de informações aos parentes dos pacientes. Um departamento onde pode-se obter informações sobre as condições de saúde do paciente, os procedimentos adotados, medicações utilizadas, exames realizados, com atendimento on-line, utilizando-se dos diversos meios de comunicação digital (WhatsApp, Telegram, mensagens de texto, mensagens de voz, email), via telefone para aqueles que não possuem acesso a estas redes, ou presencial aqueles que não possuem telefones e acesso à internet, a fim de evitar que parentes fiquem do lado de fora da instituição promovendo aglomerações ou pequenas reuniões estando sujeitas à contaminação da COVID-19.

Diante deste período pandêmico onde o distanciamento social faz-se necessário, seria muito interessante que a entidade utilizasse de todos os meios de informação disponíveis para colocar a par os parentes dos pacientes acerca de suas reais condições de saúde, dentre outras informações pertinentes, e somente aqueles que não possuem acesso a tais meios de comunicação que fossem informados pessoalmente.

Tal atitude seria uma forma de humanização no atendimento junto à sociedade e uma maneira de, além de tranquilizar pacientes e parentes, construir laços fortes, capazes de auxiliar na recuperação dos pacientes, visto que a família é de suma importância no tratamento e recuperação destes, principalmente após alta hospitalar.

Marc Souza é policial penal, escritor e diretor do Departamento de Imprensa e Divulgação do SIFUSPESP