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SP tem três agressões a policiais penais por semana, diz SAP

Informação foi divulgada em audiência na Alesp; horas depois, 11 presos de Franco da Rocha agrediram policial e fugiram

Toda semana, o sistema prisional de São Paulo registra três casos de agressões e desacatos a policiais penais. A informação foi revelada pelo próprio secretário de Administração Penitenciária, Marcello Streifinger, durante audiência da Comissão de Segurança Pública e Assuntos Penitenciários da Alesp na tarde desta quarta-feira (6/12). “Comportamentos individuais, pessoas que não quiseram sair da cela, que desacataram, jogaram objetos no rosto do policial, temos três por semana”, respondeu, quando questionado sobre a ocorrência de motins nas unidades.

Na sequência, o secretário classificou esse número como normal e aceitável. “Dentro de um universo de 197 mil pessoas, esse número é bastante pequeno”, disse. Para quem trabalha diariamente no sistema prisional, no entanto, as violências diárias trazem consequências graves. “Nenhum trabalhador deveria ir para o trabalho pensando em apanhar, em ficar de refém e essas situações têm sido cada vez mais frequentes no sistema prisional. O número de suicídios entre policiais penais cresceu em 2023, os afastamentos por problemas de saúde mental também e não é por acaso que os servidores do sistema têm uma expectativa de vida de 45 anos, quando a média nacional é de 73 anos. Estamos falando de vidas, não de números”, afirma Fábio Jabá, presidente do Sindicato dos Funcionários do Sistema Prisional (SIFUSPESP).

Fuga e agressão
Horas depois da fala de Streifinger na Alesp, 11 presos do Centro de Progressão Penitenciária Franco da Rocha fizeram um policial penal refém durante um motim na unidade. O servidor foi capturado pelo grupo e agredido com socos e pontapés. Os detentos conseguiram tomar as chaves do policial e fugir. 

A confusão começou com detentos que estavam no pavilhão disciplinar e que seriam transferidos para o regime fechado por terem cometido faltas disciplinares. Dos 11 presos que conseguiram fugir, 10 foram recapturados e encaminhados para o regime mais rígido das prisões paulistas, o RDD de Presidente Bernardes.

O CPP de Franco da Rocha tem capacidade para abrigar 1.738 pessoas, mas contava com 2.237 presos, segundo dados da SAP de 5 de dezembro. Além da superlotação, a unidade está com um deficit de mais de 50 policiais penais, o favorece a ocorrência desses levantes e agressões contra os servidores.

Penitenciária de Limeira
Este é o 15º motim registrado no sistema prisional neste ano. Na segunda-feira (4/12), presos da Penitenciária de Limeira fizeram um motim para protestar contra a má qualidade da alimentação e a falta de água na unidade. Um policial penal foi agredido com cabo de vassoura e o Grupo de Intervenção Rápida (GIR) teve que agir para controlar a situação. Além do problema da falta de água, a unidade está superlotada. A capacidade é para 715 presos, mas, na data da ocorrência, abrigava 1.175.

Clique aqui para ver trecho da audiencia

Presídios de SP só têm 1/3 dos profissionais de saúde

Em 10 anos governo constrói 30 presídios, mas número de servidores cai e não há reposição

Com a inauguração do Centro de Detenção Provisória de Aguaí, em agosto, o Governo de São Paulo completou a construção de 30 presídios entre 2013 e 2023 com uma redução no efetivo de servidores. O quadro total de Agentes de Segurança Penitenciária (ASP) é de 28.254, número que jamais foi atingido. Em 2013, o Estado tinha 24.652 ASPs. Atualmente, o número é de 21.513, deficit de 23,8%. Entre os Agentes de Escolta e Vigilância Penitenciária (AEVPS), a defasagem chega a 21,3%. E, entre os servidores administrativos, 58,48%.

A situação mais dramática é no quadro dos profissionais de saúde: são 1.384 servidores para tratar uma população de mais de 196 mil presos divididos em 182 unidades espalhadas pelo estado. Mais de 2.500 postos estão vagos e o deficit chega a 64,69%. Hoje, cada profissional de saúde da ativa faz o serviço de três. “Não é à toa que o Mecanismo Nacional de Combate à Tortura (MNPCT) encontrou diversas violações aos direitos humanos nas penitenciárias vistoriadas. Faltam profissionais para prestar atendimento médico, a qualidade da comida servida a presos e servidores é sofrível; as condições de higiene são péssimas e nas unidades superlotadas falta água. Esse sucateamento transforma o sistema em uma bomba-relógio prestes a explodir”, denuncia Fábio Jabá, presidente do Sindicato dos Funcionários do Sistema Prisional de São Paulo (SIFUSPESP).

Uma das consequências desse sucateamento é o afrouxamento da segurança nas unidades, já que agentes que deveriam garantir a ordem são remanejados para suprir a falta dos demais profissionais, principalmente os do setor administrativo. “Aqui em SP a situação está caótica e tende a piorar depois que o governo estadual retirou R$ 27 milhões da Secretaria de Administração Penitenciária para destinar à CPTM”, afirma Jabá.

Sem água e remédios
A situação do CDP IV de Pinheiros, denunciada pelo sindicato recentemente, é o retrato do caos no sistema. Além da defasagem de servidores, falta água, luz, kits de higiene, medicamentos e atendimento médico. O local é um presídio de trânsito, que abriga detentos levados a São Paulo para tratamento médico. Tem capacidade para 566 pessoas, mas abrigava 813 em 7 de novembro. “Os presos chegam doentes, feridos e não há servidores de saúde para prestar esse atendimento de forma adequada. Muitas vezes o policial penal tem que socorrer e tentar remediar a situação, mas é um tratamento desumano que não atinge apenas o preso”, comenta Jabá.

As péssimas condições de saúde, higiene e alimentação elevam a tensão no sistema e provocam motins e reações violentas contra os agentes de segurança. “É uma situação de insegurança generalizada. Somente esse ano ocorreram, pelo menos, 12 motins e 20 agressões a servidores penitenciários. O sistema prisional está à beira do colapso e o preço é pago por toda a sociedade. Quando a insegurança explode dentro de um presídio, o crime organizado se vinga por meio de seus braços aqui fora. Quem paga o preço é a população”, diz Jabá.

Baixas diárias
Segundo dados do próprio governo, 1886 servidores do sistema prisional se aposentaram em 2022, uma média de 5 por dia. “Sem qualquer previsão de concursos públicos, sabemos que esse problema será agravado em 2024 porque todos os anos perdemos servidores e não há reposição”, reclama Jabá.

Insegurança
Segundo resolução de 2009 do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, a proporção mínima aceitável é de um agente para cada grupo de cinco presos. Em 2013, a proporção era de 1 para 8,5. Hoje, cada servidor cuida de um grupo de 9 presos. “Isso é uma média sem levar em conta as escalas de serviço. É comum recebermos denúncias de que unidades com mais de mil presos estão sendo cuidadas por dois ou três agentes em determinados plantões”, revela.

A situação ganha contornos dramáticos se consideramos que esse contingente de servidores é dividido em quatro turnos distintos nas unidades. Levantamento feito pelo sindicato com base nos dados do Diário Oficial mostra que, até abril de 2023, 1.181 agentes deixaram o serviço público por aposentadoria, morte ou exoneração. “Se a gente considerar que, além dessas baixas, temos, em média, 10% do efetivo afastado por problemas de saúde, a proporção chega a um servidor para cada 12 presos. Isso torna o ambiente de trabalho cada vez mais massacrante e perigoso”, comenta Jabá.

1 agente para 17 presos
O sindicalista cita o exemplo da Penitenciária 1 de Mirandópolis, que tem em média 110 agentes divididos em quatro turnos para cuidar de 1.873 presos, o que equivale a 1 agente para cada 17 presos. “Não há como garantir a segurança do sistema com uma defasagem tão alta. Hoje o crime organizado tem conexões em tempo real. Uma rebelião em presídio pode provocar uma reação em cadeia que vai abalar toda a segurança pública do Estado. Nós já vimos isso acontecer antes, não queremos ver de novo”, completa.

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